A web art engloba apenas trabalhos que, no processo de produção, são pensados para a rede Internet. Para se criar um trabalho desses, parte-se do princípio de estabelecer relações com a sensibilidade do internauta, tornando a navegação uma experiência incomum, exótica, labirítintica, estética... Existe, portanto, uma busca de resultados subjetivos, ligados intimamente com a experiência do visitante, que por sua vez, se presta a um grande número de leituras particulares que serão resultado direto da ação do repertório visual do interpretante e dos caminhos percorridos pelo mesmo acerca das possibilidades de navegação que surgirem.
O conceito parece um tanto complicado e, de fato, não há uma referência única no país, uma vez que a web art ainda vem desenvolvendo uma linguagem e identidade.
Uma referência importante dentro deste cenário é a professora e pesquisadora Lucia Leão .Ela se utiliza da metáfora do labirinto, que representa o ciberespaço, e a partir daí, começa a traçar caminhos, colocados como mapas, no mesmo sentido que a cartografia tradicional, traçados pelo internauta através das opções que ele faz em sua navegação pelo ciberespaço. Esse conceito é reforçado em seu livro O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço, no qual ela comenta, de forma metafórica, que "o labirinto vivido se apresenta como uma paisagem em movimento, composta por elementos heterogêneos. Pode ser fruto de impulsos, interesses súbitos e surpresas. Vai se formando como uma assemblage na qual o diverso quis se interconectar. Mapa que muito se esquiva de ser decalcado. Une e funde em si tanto o que era desejável como aquilo que o viajante nem sonhava encontrar. Será sempre organizado e estruturado num terceiro momento, porém, ele será sempre mais do que esse terceiro".
Na prática, Lucia desenvolve projetos de web art que integram o meio virtual à cultura contemporânea. Os mais recentes trabalhos, encerrados em 2007, são As mil e uma histórias, Plural Maps: Lost in São Paulo e Corposcópio.
O conceito é antigo. A inspiração parte do revolucionário livro Jogo de Amarelinha, do escritor argentino Julio Cortázar. Nele, o autor propõe ao leitor mil possibilidades de leitura, podendo este acompanhar os capítulos de forma linear, ou então de forma não-linear, seguindo uma outra seqüência, iniciada pelo capítulo 73, por exemplo. De ambas as formas, a leitura terá coerência. Pode-se dizer que já aí há interatividade e uma viagem labiríntica.
O site funciona da mesma forma. É um projeto de web art colaborativa, no qual o principal objetivo é criar um ambiente que estimule o compartilhamento de histórias e reflexões. A participação é aberta, e qualquer um pode inserir textos, imagens, poemas, diálogos, iniciar uma nova narrativa ou continuar alguma já existente. O internauta, por sua vez, pode seguir a seqüência que quiser. Indo e vindo nas histórias.
O projeto incorpora labirintos construídos em VRML e links que levam os usuários a interagirem com web cams espalhadas em pontos específicos da cena urbana da cidade de São Paulo. A metrópole é vista como um rizoma, no qual cada cruzamento é um ponto de partida ou de chegada, e todos esses pontos se conectam com o todo.
Corposcópio
Em todos os projetos, percebe-se a interação do real com o ciberespaço. Em entrevista a Folha de S. Paulo, no ano de 2006, Lucia desmistifica a idéia de que esses dois mundos estejam separados. “Tenho insistido nisto: durante muito tempo, as pessoas achavam que o ciberespaço é "mentirinha", um mundo de faz-de-conta, de fantasia. Hoje a gente saiu dessa fase. Estamos na fase em que o ciberespaço é apenas um prolongamento da cultura. Não há nada no ciberespaço que não corresponda ao mundo real”.
Um comentário:
:: Mil(ena), realmente vc trouxe o perfil pontual da Lúcia, que é um Leão de competência em termos de web art.
Mais: o recheio de links dão uma panorâmica curricular desta pesquisadora. Difícil de esquecer a Lucia depois disso!
@_@"
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