sexta-feira, 4 de abril de 2008

Jornalista garoto-propaganda e a ética no jornalismo

Jornalista e publicidade: o jornalista é antiético ao vender produtos?



De acordo com o artigo terceiro do Código de Ética do Jornalista Brasileiro o exercício da natureza social da profissão deve zelar sempre pela verdade no relato dos fatos, pautando-se, portanto, pela apuração e divulgação correta das informações analisadas.

Mas seria possível um jornalista tornar-se um garoto propaganda de determinado produto em sua profissão? Até que ponto a relação do jornalismo com a publicidade, e seus interesses de mercado, pode ferir princípios éticos na busca pela veiculação exata do fato social ocorrido?
Juca Kfuri foi enfático ao ser questionado se um jornalista pode ser garoto-propaganda na reportagem Pelo Jornalismo sem Propaganda, feita pelo estudante de jornalismo e repórter Felipe Held: “Jamais. Não Pode.”

Na reflexão Caso Joelmir Beting, de Luiz Antônio Magalhães, o antagonismo entre jornalismo e publicidade é enorme. E cita como exemplo o jornalista Joelmir Beting quando tornou-se garoto propaganda do Bradesco e deixou de ser colunista do Globo e do Estado de S. Paulo: “O motivo do afastamento do agora ex-colunista é simples. Basta o leitor imaginar o que ocorreria se, durante a veiculação do comercial do Bradesco, estourasse um escândalo envolvendo justamente o produto que Beting anuncia. Isto não significa que não exista gente fazendo as duas coisas, até porque não é proibido por lei.”

Já para o próprio Joelmir, em sua crítica Posso Falar?, a ética do jornalista não pode se misturar com a ética e as políticas do veículo em que trabalha. Para ele o jornalista enquanto profissional construtor de idéias e conhecimento deve se orientar pela ética do jornalismo, por essa busca da verdade, já que a ética do veículo se orienta também de acordo com sua conveniência, muitas vezes mercadológicas. E diz ser possível separar jornalismo de publicidade já que ele não precisaria necessariamente seguir as normas de conduta dos veículos para os quais vende o seu produto.

Apesar do caso Beting não significa que fatos parecidos deixaram de ocorrer na imprensa brasileira. Na questão jornalista/garoto-propaganda, tivemos recentemente o Paulo Henrique Amorim num informe publicitário que apresentou uma fusão entre cervejarias. Milton Neves também já disse que a melhor cerveja era a Schincariol e tempos depois que a Brahma era a melhor cerveja.

O produto vendido pelo jornalista não atingiria diretamente a construção de seus textos, mas fere de uma certa forma sua credibilidade. Existe um limite distinto entre a publicidade e a notícia? Jornalismo e publicidade são totalmente antagônicos ou haveria um meio de conciliá-los?

No texto Novo Código de Ética, de Thereza Gerhard publicado em seu blog, na última Federação Nacional dos Jornalistas o conselho da imprensa, ao discutir a proposta de atualização do código de ética, foi preciso. E reforçou a necessidade de separar o jornalismo das campanhas publicitárias.

Fica aqui uma proposta de reflexão e um cutucão nos navegantes dessa web afora: Pode-se dizer que um jornalista, imparcial e objetivo, enquanto usa sua credibilidade para apoiar certo produto está sendo antiético?

Sim? Não?

O que falar de uma campanha publicitária feita por um jornalista/garoto-propaganda cujo lucro das vendas seja revertido para ações sociais solidárias?

A questão parece se apagar e reacender a cada novo caso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Danilo,

Adorei saber, mesmo tardiamente, que vc me linkou aqui no seu blog. Gostei da discussão. Vc acredita que numa assessoria de imprensa fica ainda mais difícil separar o que é jornalismo do que campanha publicitária?

Beijos,

Thereza