De acordo com o artigo terceiro do Código de Ética do Jornalista Brasileiro o exercício da natureza social da profissão deve zelar sempre pela verdade no relato dos fatos, pautando-se, portanto, pela apuração e divulgação correta das informações analisadas.
Mas seria possível um jornalista tornar-se um garoto propaganda de determinado produto em sua profissão? Até que ponto a relação do jornalismo com a publicidade, e seus interesses de mercado, pode ferir princípios éticos na busca pela veiculação exata do fato social ocorrido?
Juca Kfuri foi enfático ao ser questionado se um jornalista pode ser garoto-propaganda na reportagem Pelo Jornalismo sem Propaganda, feita pelo estudante de jornalismo e repórter Felipe Held: “Jamais. Não Pode.”
Na reflexão Caso Joelmir Beting, de Luiz Antônio Magalhães, o antagonismo entre jornalismo e publicidade é enorme. E cita como exemplo o jornalista Joelmir Beting quando tornou-se garoto propaganda do Bradesco e deixou de ser colunista do Globo e do Estado de S. Paulo: “O motivo do afastamento do agora ex-colunista é simples. Basta o leitor imaginar o que ocorreria se, durante a veiculação do comercial do Bradesco, estourasse um escândalo envolvendo justamente o produto que Beting anuncia. Isto não significa que não exista gente fazendo as duas coisas, até porque não é proibido por lei.”
Já para o próprio Joelmir, em sua crítica Posso Falar?, a ética do jornalista não pode se misturar com a ética e as políticas do veículo em que trabalha. Para ele o jornalista enquanto profissional construtor de idéias e conhecimento deve se orientar pela ética do jornalismo, por essa busca da verdade, já que a ética do veículo se orienta também de acordo com sua conveniência, muitas vezes mercadológicas. E diz ser possível separar jornalismo de publicidade já que ele não precisaria necessariamente seguir as normas de conduta dos veículos para os quais vende o seu produto.
Apesar do caso Beting não significa que fatos parecidos deixaram de ocorrer na imprensa brasileira. Na questão jornalista/garoto-propaganda, tivemos recentemente o Paulo Henrique Amorim num informe publicitário que apresentou uma fusão entre cervejarias. Milton Neves também já disse que a melhor cerveja era a Schincariol e tempos depois que a Brahma era a melhor cerveja.
O produto vendido pelo jornalista não atingiria diretamente a construção de seus textos, mas fere de uma certa forma sua credibilidade. Existe um limite distinto entre a publicidade e a notícia? Jornalismo e publicidade são totalmente antagônicos ou haveria um meio de conciliá-los?
No texto Novo Código de Ética, de Thereza Gerhard publicado em seu blog, na última Federação Nacional dos Jornalistas o conselho da imprensa, ao discutir a proposta de atualização do código de ética, foi preciso. E reforçou a necessidade de separar o jornalismo das campanhas publicitárias.
Fica aqui uma proposta de reflexão e um cutucão nos navegantes dessa web afora: Pode-se dizer que um jornalista, imparcial e objetivo, enquanto usa sua credibilidade para apoiar certo produto está sendo antiético?
Sim? Não?
O que falar de uma campanha publicitária feita por um jornalista/garoto-propaganda cujo lucro das vendas seja revertido para ações sociais solidárias?
A questão parece se apagar e reacender a cada novo caso.
Um comentário:
Oi, Danilo,
Adorei saber, mesmo tardiamente, que vc me linkou aqui no seu blog. Gostei da discussão. Vc acredita que numa assessoria de imprensa fica ainda mais difícil separar o que é jornalismo do que campanha publicitária?
Beijos,
Thereza
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