sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ficção na vida real


Eliana foi encontrada ainda em chamas com perfurações na garganta e na nuca
<ensaios narrativos>

“Condenados a 60 anos de prisão em regime fechado”, toc! Com estas palavras o Juiz Laércio José Mendes Ferreira Filho, da 2ª Vara Criminal de Bragança Paulista, encerra um dos casos de violência que mais chocou o país.

Era madrugada de 11 de dezembro de 2006. A equipe liderada pelo delegado João Valle ouviram, via rádio, que uma mulher havia dado entrada, no Hospital Unimed, com 70% do corpo queimado alegando ter sido vítima de seqüestro. Era Luciana Michele Dorta, de 27 anos, gerente-caixa da franquia Sinha Moça.

O seqüestro

Noite do dia 10. Luciana estava em casa, com o marido, Fábio, depois de mais um dia de trabalho. Eles moravam num bairro da periferia de Bragança Paulista. Por volta das dez, o casal recebe uma ligação no mínimo inusitada: era sua chefe, a gerente Eliana Faria da Silva, pedindo as chaves do cofre porque precisava de dinheiro.

Eliana tinha 32 anos e era casada com Leandro Donizete de Oliveira um ano mais novo. Tinham uma vida próspera, ela gerente, ele mecânico. A alegria do casal provinha principalmente do filho Vinícius que contava agora com 5 anos de idade.

Passados alguns minutos a gerente-caixa vê chegar o Pálio azul. Eliana desce e pára na soleira da porta, um tanto angustiada. Pede que a colega a acompanhe, visto que não conseguia abrir o cofre. Quando se aproximou do carro, Luciana estranhou que Vinícius, aguardava a mãe na companhia de dois indivíduos estranhos, mas era tarde demais...

O desespero

Fábio já estava preocupado com a demora da esposa. Já era madrugada e ela não havia dado sinal, nem ao menos um telefonema. Resolveu verificar o que estava acontecendo. Passou em frente à casa de Eliana; tudo apagado. O carro do casal não estava na garagem, havia apenas um Kadett vinho, estacionado do outro lado da rua.

Passou pela loja e nada, só uma luz acesa no andar superior do estabelecimento. Passando pelo Bairro Lavapés encontrou uma viatura da Polícia Militar. Explicou sua preocupação e voltaram para a casa da gerente. O Kadett já havia sumido.

O suplício

Medo! Pavor! Cada vez mais o Pálio azul ganhava a escura estrada de terra. Pararam na entrada de uma fazenda chamada Namaster. Estarrecida, Luciana teme o que está por vir. Ela e Vinícius estão no banco de trás, Eliana, sangrando pelo pescoço, no banco da frente e Leandro preso no porta-malas, todos amarrados.

Os dois homens já haviam descido e um forte cheiro de gasolina tomou conta de suas narinas. De repente o fogo tomou conta do carro e, em poucos minutos, as chamas lambiam os passageiros.
Numa ânsia pela sobrevivência, Luciana se solta e consegue puxar o menino para fora do carro.

Rolam pela grama para apagar o fogo. Eliana, já meio desfalecida, tanta sair também. De repente, Luciana ouve a voz de seus algozes e fingiu estar morta. Percebendo que Eliana, ainda estava viva, os homens desferem mais golpes de faca em sua nuca e pescoço. Sentindo seu corpo ser carregado e jogado no matagal, a funcionária ainda ouve: “o menino está vivo, mas não pega nada, não” e o som de um carro partir. “Monstros!”, pensou.

A moça foi socorrida por um casal que passava pelo local e, mais tarde,Vinícius foi encontrado perambulando pelo estrada, pela equipe do delegado João Valle. Noventa por cento do seu corpo estava queimado.

O perigo mora ao lado

“Estou acabado. Eu sou um monstro. Menti para muitos amigos e traí a conficança de muitos deles.” Desta forma, o eletricista Luís Fernando Pereira tenta se desculpar pelo ato bárbaro que cometeu. Era amigo do casal, Eliana e Leandro há 13 anos. Já havia trabalhado na loja e na casa deles.

Precisavam de dinheiro, Ribeiro e o cunhado, o serralheiro, Joalbe Severino Ribeiro . O primeiro para pagar os R$ 4,5 mil que devia para o cunhado e o segundo para pagar parte de uma casa e sair do aluguel.

Executaram o plano e conseguiram quase R$ 20 mil reais, só não contavam ser reconhecidos pelas vítimas...

Triste final

O testemunho de Luciana foi fundamental para solucionar o caso. Em meio a tanto sofrimento, ela consegui memorizar parte da placa do Kadett e descrever a via crucis pela qual passaram. Com noventa por cento do corpo queimado, Vinícius morreu no dia.
A funcionária foi ameaçada e teve que ser transferida para um outro hospital seguinte onde morreu cerca dias depois.

Ribeiro e Pereira foram condenados, quase um ano depois, a 60 anos, em regime fechado sem direito de recorrer em liberdade. Hoje são mantidos presos em Tremembé, no Vale do Paraíba.

Um comentário:

webjorsuperacao disse...

Érica, muito bom. O conteúdo é lamentável socialmente falando e pela revolta que faz aflorar, prefiro conter-me, deixando para a as justiças dos homens e de Deus tal escândalo.
No que diz respeito a seu texto, um modelo roteirizado, cinematográfico, e por isso , de modo crescente, envolve o leitor: vc conseguiu fazer isso comigo!
Experimente em outros casos e mexa com a ordem das coisas. O jornalista de web também deverá ser multilinguagem.
Parabéns!
\\\\
@_@♫
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