sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Aventuras das focas



Final de ano, os alunos estão enlouquecendo! Tudo gira em torno da conquista de um pedaço de papel

<ensaios narrativos>

Cada um faz suas escolhas de temas e trabalhos que os acompanham durante todo esse período. Apresentar aos “bicho-papão”, vulgo banca de qualificação, acarreta mais algumas doses de loucura e desespero. “Enfim Deus sabe o que faz” (Ir.ª Selma – Terça insana).

Não é diferente com as alunas de jornalismo “Chica” e “Shimaru”, as amigas aventureiras, não se contentaram com a possibilidade de produzirem uma monografia. Este trabalho, acadêmico, sério, cercado de possibilidades de execução, e o mais importante com segurança.

Mas não, uma das propostas era criação de um meio de comunicação dentro da FEBEM, junto à fundação CASA de Atibaia. Mas por achar um tanto quanto burocrático, a idéia foi engavetada.

Então o que poderia ser feito, talvez um vídeo, programa de rádio, um site, uma revista, até mesmo um jornal. A opção foi produzir um livro-reportagem, tendo como plano de fundo a questão habitacional do município. Aparentemente mais tranqüilo.

Pois bem, com a arrancada inicial, muito trabalho, muita pesquisa. Depois foi a hora das entrevistas, ir à campo exercitar as teorias aprendidas em sala. Parecia mole.

Mas vêm as primeiras dificuldades, o bairro selecionado para a pesquisa é o Caetetuba, mais conhecido como “Kuait”, alusão esta feita ao bairro pela constante fama de ser o bairro mais violento e perigoso da cidade, com direito a “Faixa de Gaza” e tudo mais. Como diz os nomes, trabalhar nesse local não deixou a desejar em relação à aventura, sustos e muita riqueza de conteúdo.

Como foi no domingo, por exemplo, onde tínhamos marcado uma entrevista para o final da tarde. Mas o trabalho não poderia esperar, e lá vamos nós transcrever varias entrevistas até chegar a hora. Assim foi, gravador de um lado computador do outro, com direito a curtos intervalos para estender a roupa despejada na máquina de lavar. Verdadeiras artistas, junto a tudo isso, tem que dar atenção a namorado, marido, filha, sogra, cunhada. E assim foi.

Chegada a hora, marcamos de nos encontrar em uma praça para juntas entrevistar nossos personagens da vez, os traficantes do bairro. Nada de contar para o namorado de uma e ou marido da outra com quem iríamos falar, afinal eles não iriam permitir mesmo.

E lá se vão as duas. Caminhando pela faixa de gaza “Shimaru” pergunta onde fica a tal “faixa de Gaza”, Chica já com tom de medo em sua voz responde - “È onde acabamos de passar”.

O encontro havia sido marcado por uma fonte proprietário de uma padaria, que tinha mais cara de bar. Ao se aproximar do local poderia avistar, uns seis rapazes na escada da padaria, uns em pé outros sentados. Então se aproximaram, por natureza já eram destoantes do ambiente, nem precisa dizer que chamava a atenção deles. Não por beleza, mas por estar nítido nos olhos o pavor que estavam sentindo por dentro.

A fonte era um “poço de descrição”, ao chegar disse que não seria uma boa hora para a entrevista já que eles estavam todos “chapados”. Isso era perceptível, só não sabíamos se era por meios lícitos ou ilícitos, a essa altura também não interessava muito.

Só queiram sair dali, mas a fonte insistia em dizer que todos ali no local eram traficantes, e que até poderia tentar falar com eles desse jeito mesmo. E daí ele começou: - “Olhem estes dois ali, com cara de crianças já estão doidões, eles são, se vocês quiserem podem ir lá.” - E tentando ser mais discretas o possível, combinaram em voltar outro dia, para não incomodar também, porém a fonte “simpática” continuava seu discurso – “Tem um rapazinho de 20 anos que já matou oito.”

A essa altura a Chica tentava trazer a conversa o mais perto possível da grande porta, do lado oposto onde estava a turma, mas sua tentativa de mudar de assunto não foi bem sucedida. E de repente estavam os três posicionado de forma triangular, a Chica em pé na porta de costas para a rua, a fonte de costas para uma parede e Shimaru de costas para o interior da padaria, um de frente ao outro, foi nessa hora que momento que a fonte tão discreta quanto um elefante rosa com bolinhas verdes, diz:

- “Vocês estão vendo esse ai atrás, - e apontando o dedo – então ele matou um cara lá na Usina, bebeu o sangue, comeu o fígado e depois esquartejou” – nessa hora as pernas amoleceram, e a pressa de ir embora foi mais forte de que nunca.

O que apavorava não era o fato dos meninos saberem que queriam falar com eles, o medo maior era eles pensarem que as duas fossem da polícia, ou estivessem ali para fazer algum tipo de denuncia, vai saber.

Enfim não foi desta vez, mas buscas por mais aventuras continuam.

Um comentário:

webjorsuperacao disse...

Francisca, penso que houve indecisão quanto a forma estrutural da narrativa. Vc começou com uma espécie de relatório e depois embalou em uma narrativa mais envolvente com tendência ao relato testemunhal. A meu ver, vc deveria ter começado a partir disso desde o início.
Deu para sentir a agrura que vcs passaram, mas se utilizasse elementos descritivos, por certo daria uma nuance maior de persuasão.
""""
@_@♫
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