A criatividade no uso de linguagens, pode configurar resultados interessantes no jornalismo. É o caso da hibridização jornalismo e quadrinhos.
O quadrinista e jornalista Joe Sacco combina bem as duas modalidades de comunicação de forma genial como pode ser observado em seus álbuns - designação comumente usada para os livros em quadrinhos. Sacco chegou a denunciar as torturas sofridas por prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghaib em quadrinhos publicados pelo jornal inglês The Guardian.
Obra
Palestina - uma Nação Ocupada (vencedor do American Book Award) ,álbum de Joe Sacco mais conhecido, relata a vida nos territórios ocupados daquela região com uma impressionante narrativa em primeira pessoa.
O trabalho de Sacco leva o leitor a ter uma visão menos impassível sobre a questão Palestina, pois mostra essa realidade do ponto de vista de um espectador em pleno campo de conflito. As imagens desenhadas e incrivelmente realistas em contraste com os personagens com traços caricatos (porém, profundamente humanos) nos remetem a algo incômodo que as imagens dos jornais e da TV preferem camuflar. A gestalt das páginas de Joe Sacco chegam a ser perturbadoras, apresentando uma disposição dos quadros e dos balões "dançando" na página. Uma confusão que remete às cenas de destruição e desespero presentes nas páginas.
Esse é um dos exemplos do poder comunicacional dos quadrinhos que, como complexa linguagem icônica, supre com facilidade o entendimento dos leitores sobre o assunto.
Sacco produziu outros livros sobre áreas de riscos: Palestina na Faixa de Gaza,Área de Segurança Gorazde e Sarajevo, esses dois últimos sobre conflito na Bósnia Oriental.
Em Derrotista, último trabalho do autor publicado no Brasil, é apresentado seus quadrinhos pré-Palestina, mas já mostra sinais de uma veia jornalística ao narrar fatos. Esse álbum já evidencia seu estilo autobiográfico, evidentemente influenciado por Robert Crumb, considerado um dos mestres do quadrinho underground.
Uma das primeiras histórias de Joe Sacco não tinha nada a ver com bombas e guerras e sim com música; rock´n´roll. O cartunista acompanhou a turnê de uma banda de rock de amigos como um roadie, porém com uma missão: retratar a viagem, os shows e os bastidores através dos quadrinhos. Já nas últimas histórias do álbum (que é disposto em seqüencia cronológica) percebe-se sua tendência jornalística e sua fascinação pela guerra.
HQ e horror de uma época.Art Spiegelman, do aclamado livro em quadrinhos MAUS (vencedor do Prêmio Pulitzer), que conta os dias de um sobrevivente durante o Holocausto é exemplo de uma inusitada e marcante incursão em relatos e provas documentais (trabalho de reportagem investigativa) através de uma linguagem aparentemente inadequadada para um tema tão denso. Prefiro dedicar um texto exclusivamente para esse autor numa próxima oportunidade.
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Web, Jornalismo e Quadrinhos - por Yuri Andrey
2 comentários:
:: André, realmente de pois do Sacco, o jornalismo deixou de ser um saco no qual só o texto expressava algo.
Além disso, seu texto, com a devida referência ao Yuri, faz-me lembrar de uma obra recente, de 2007, que ganhou premiação, tendo referência uma história em HQ.
Refiro-me a Persépolis, do diretor Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud, com de ambos,
montagem de Stéphane Roche,
música de Olivier Bernet, sob produção de Marc-Antoine Robert, Xavier Rigault. Se não viu, valeria a pena, pois certamente amplia seu já vasto repertório quadrinhista
@_@"
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Já vi. Tenho até uma cópia do filme aqui em casa. Mas valeu a recomendação.
=^)
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