domingo, 11 de maio de 2008

Feliz(?) Dia das Mães

No dia das mães, Globo minimiza data comemorativa e prioriza entrevista emocionada com mãe da menina Isabella.


No dia em que deveríamos apenas exaltar a felicidade de quem é mãe, refletir sobre o divino dom de dar à luz a uma nova vida e revelar como o brasileiro comemorou a data, a imprensa perdeu a oportunidade de presentear as mães brasileiras com uma programação especialmente dedicada à elas. A principal reportagem da edição de hoje do Fantástico, ao contrário do seu slogan que mostra "o show da vida", apresentou o "show" da morte da menina Isabella e a trágica perda de uma mãe. O badalado caso da família Nardoni.

A Globo não resistiu em relembrar aquele que já é chamado de "o crime do ano". O esfriamento na repercussão do crime envolvendo a família Nardoni tem justificativa: Primeiro, é que o assunto está saturado; explorado em demasia por toda imprensa, boa parte do público está cansado do bombardeio midiático sobre o caso. Outro ponto, é a polêmica envolvendo o jogador do Milan da Itália, Ronaldo, e três travestis após uma noitada no Rio de Janeiro. E como a imprensa vive de audiência, fatos novos e marcantes tomam o lugar das notícias antigas. A polêmica, por sua vez, trás pontos no ibope; a lógica da tv é ir aonde a polêmica está e, agora, não foi diferente.

Contudo, no jornalismo há também, as matérias produzidas com datas específicas para veiculação. É o caso do Dia das Mães. Geralmente a programação é voltada para assuntos referentes à maternidade, abordada de diversas maneiras: Jovens mamães, gravidez na maturidade, mães adotivas, mães que também fazem as vezes de pai dentro de casa, dentre tantas outras pautas oportunas.

Mas não foi o que aconteceu desta vez; sobrou a frustração para quem queria ter um fim de domingo agradável, com reportagens de verdadeiras lições de vida, exemplo a ser seguido. O que restou para as mães brasileiras foi, além da casa vazia, saudades dos filhos e a agradável bagunça deixada pela visita daqueles que serão "eternas crianças", somente a tristeza de uma jovem mãe que perdeu seu bem mais precioso, a filha. E da maneira mais trágica possível. Essa foi a última mensagem do domingo...

E como apenas uma mãe sabe como é perder um filho e compadece-se mutuamente como forma de dividir a dor, a Rede Globo deu um péssimo presente às mães do Brasil. A dor da perda de um filho.

5 comentários:

webjorsuperacao disse...

Eddy, você mostra estar sempre atento! Muito bem observada a química que o jornalismo utiliza para reanimar as notícias que estão fenecendo.
Provocante sua crítica, pois realmente o dia das mães sempre é associado à alegria de um nascimento e não à morte. Sempre há o lado positivo e o negativo implícito neste fazer jornalístico, mas nunca despretencioso. Associar o dia das mães à perda de um filho realmente é chocante e essa química por certo atraiu audiência.
Realmente no mundo da informação e das possibilidades de mistura dos gêneros e subgêneros, muito é possível. Que sirva de lição seu enfoque, mas sempre lembrando que o mercado parece ser bem diferente do que se apregoa nos bancos escolares e mesmo nos códigos de ética.
Curiosamente, a Record tem feito uma cobertura intensa sobre o caso, mas os momentos cruciais em termos de entrevista tem sido direcionados à Globo, tal como ocorreu com o casal Nardoni --ocasião em que choraram-- e agora com a mãe de Isabela. A Globo perece querer somente os momentos de audiência, enquanto o andamento do fato fica no vazio, em prejuízo para o jornalismo!
Comparemos as coberturas: a meu ver, a Record está detonando o jornalismo da Globo!
@_@
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Eder Cardoso disse...

William, de fato, fui um pouco ácido na crítica. Quis levantar esse debate sobre a utópica ética no jornalismo. Questões como "certo e errado" ou o "politicamente correto" por vezes passam à margem do jornalismo, numa espécia de vista grossa dos editores na busca desenfreada por audiência.
Tenho consciência de que no mundo jornalístico ninguém é santo, e os bonzinhos não sobrevivem. É a famosa lei da selva, ou de ditados como "quem pode, pode!".
No caso da comparação entre a cobertura das redes Globo e Record, de fato, a segunda aplica uma marcação cerrada ao caso, acompanha o dia-dia dos acusados, dando até mesmo detalhes inúteis para a investigação e população. Enquanto isso, a emissora carioca, usufruindo de seu poder de influência e difusão desfruta do "filé mignon": entrevistas exclusivas, com direito à repórter emocionada e cumprimentando a entrevistada com beijinhos para coroar a comoção pública das mães brasileiras. Ao que me parece, no último domingo, todas as mães deveriam chorar a perda de um filho. Pelo menos esta foi a intenção da Rede Globo...e, infelizmente, ela conseguiu.

Mara Nunes disse...

Parabéns!!! Adorei sua crítica. Só acho que pode dar uma revisada no texto, nada sério, correções minúsculas do tipo: retirar o aa que aparece no quarto parágrafo.
De fato é pouca coisa mas que conta, parabéns novamente.

webjorsuperacao disse...

:: Eddy, muito legal este seu complemento, porque fica claro o tipo de jornalismo e de jornalistas que estão nestas emissoras, muitos dos quais foram da própria Globo. A briga parece ser também entre estilos de jornalismo e talvez valesse apena lembrar o que disse o ex-Globo e atual Record, repórter e apresentador do Hoje em Dia, Brito Júnior, que disse dia desses que na Globo há pouco céu para muitas estrelas! Ocorre que às vezes o céu é igual ao do filme Vanila Sky: contemplativo, melhor de ser visto do último andar de um prédio e, pior, que para acordar seja necessário atrirar-se de lá de cima!
@_@"
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Eder Cardoso disse...

Mara, obrigado pelo toque! Fiz as retificações necessárias. Realmente, "comi" palavras dentre outros errinhos chatos. Coisa de Copy Desk!! haha.
Novamente, agradeço a atenção. Isto mostra que "somos lidos!!"
Abraços... e sucesso!

[ ]'s
Eddy