Jornalista é como Gregor Samsa, de Kafka, após a metamorfose
<ensaios narrativos>
É sempre delicado falar do futuro. No entanto, exponho minha visão da merda toda quanto a essa profissão (que admiro, porém, em muitos aspectos, não me diz respeito).
O jornalismo só me interessa enquanto ferramenta social e de desenvolvimento crítico de pensamento revolucionário - peguei pesado? Nem de longe... Falo não de um fato em si, mas do jornalista e a mediocridade sempre em pauta.De repórteres engravatados com almas vendidas para grandes empresas de comunicação o mercado está cheio. Tenho admiração pelo jornalismo literário, pelas vertentes do new jornalism, como Truman Capote e Gay Talese, as grandes reportagens em quadrinhos de Joe Sacco e pelo jornalismo Gonzo de Hunter Thompson (que conheço pouco, mas muito me interessa).Gosto de ler textos incisivos, escritos a la Jack Kerouac, ou Charles Bukowski - ok, não são jornalistas -, sem pudor castrativo ou toda a baboseira sobre objetividade.
Considerando as circunstâncias em que a sociedade se encontra, com o acesso a informação cada vez mais viável à população é evidente que o comunicador social, mais que apenas o jornalista, esteja preparado para se posicionar e criar um estilo. Mas não essa história de ter um bordão pra fechar matérias ou perfil de polêmico sem causa. Estilo no sentido de escrever de maneira livre e sem a postura de quem tem uma grande empresa monitoradora - e manipuladora - por trás. Então ouço que isso não configura o jornalismo... perco o tesão. Como a instituição em que estudo e sua opção de delimitar o âmbito das matérias dos alunos ao tema do terceiro setor, ou ouvir de um professor "-Você tem que de submeter àquilo que lhe for designado. É assim que funciona o mercado". Descobri que o tal "mercado" é burro, o que foi uma enorme decepção. Não pretendo escrever sobre temas de interesse geral por mera conveniência. Alguns nichos me interessam, e é pra lá que eu vou.
Novas Possibilidades
A televisão já não me atrai há tempos. Me chamam de alienado, mas é uma questão de preservação da própria saúde: A TV me provoca náuseas. Não quero citar os já exaustivamente explorados temas de sensacionalismo promovidos pela mídia - em especial a televisiva. Então, um suporte em especial me parece boa alternativa de busca de informação, sem a passividade da televisão: a web.Antes de fazer previsões que possam misturar fatos com posições mal fundamentadas, devo atentar para alguns fatos: o aumento de pessoas com acesso à internet é considerável, porém ainda é uma parcela extremamente pequena da população que goza do acesso a esse recurso da tecnologia; mesmo com a proliferação das lanhouses, não se pode esperar da grande maioria dos internautas o uso correto e funcional da web, uma vez que é muito comum ver jovens freqüentando estabelecimentos de serviço de acesso à Internet somente para conversar com amigos por msn ou então para utilizar a grande pseudo-comunidade de relacionamentos Orkut. Portanto podemos concluir que mesmo desta pequena parcela da população que tem acesso à internet, não é possível extrair uma resposta quanto ao acesso à informação, uma vez que não há uma educação significativa voltada para esta mídia. Esse processo ainda se dará lentamente até que parte significativa da população tenha acesso à Internet, e de modo aproveitável. Logo, fica claro que a atuação do jornalista é imprescindível para ordenar as informações e disponibilizá-la ao público. É evidente que está sofrendo alterações em sua estrutura, o que só vem a confirmar o fato de que a profissão está em desenvolvimento, em transformação. Isso é ponto positivo. O jornalismo acompanha a evolução da tecnologia em velocidade proporcional à adequação da internet à sociedade.
Este é o caminho do jornalismo: desenvolver novas ferramentas que permitam acompanhar a evolução das novas tecnologias. O que é necessário para que haja um crescimento sem haver inchaço é a educação por parte do público de saber praticar a "regurgitofagia", como propõe de forma divertida o poeta Michel Melamed em sua peça teatral: expelir toda a informação que nos é apresentada, associar, organizar e então digerir novamente aquilo que é útil para nossa formação. Acredito que o novo jornalista esteja caminhando para ser este profissional que não deixará transbordar a informação como mero produto para ser consumido e jogado fora como qualquer coisa que compramos num supermercado.Infelizmente isso é apenas uma visão romantica, pois minha admiração pelo jornalismo fica nas pequenas ações de casos isolados.
Andre Almeida
2 comentários:
André, realmente os jornalistas parecem brigar com o próprio jornalismo. Foi assim quando surgiu a entrevista humanizada, bem como com a grande reportagem, que por ser custosa e por ocupar espaço, foi remetida para o livro reportagem.
Em termos de estrutura, seu jornalismo gonzo associou-se à sua indignação e desânimo, mas sempre há saídas.
Parece que nas crises ficam mais interessantes e isso precisa ser considerado. A crise de identidade atual coloca em xeque a própria identidade.
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@-@♫
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Muito bom Adr!
Tom Wolf na veia!
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