quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Há 100 anos...



Talvez ele seja mais bonito assim do que em suas memórias póstumas


<ensaios narrativos>

Enquanto mexia em uma caixa em casa, encontrei muitos livros que nem cheguei a ler talvez por imaturidade ou talvez porque aos meus 10,11 ou 12 anos não queria perder meu tempo no quarto enquanto o sol brilhava lá fora, afinal a infância é uma só e ela não volta atrás.
Há muito tempo não mexia nessa caixa, talvez por trauma ou por ter me esquecido dela assim como as músicas infantis e as brincadeiras.

No auge da minha infância meus professores obrigavam a ler livros chatíssimos, pelo menos para minha idade, e como todo mestre ele mandava a gente a fazer resenha, falar sobre os personagens principais e também a falar sobre o contexto do livro e como eu era uma garota muito esperta sempre apelava para meus pais, que quando crianças tiveram que ler e levavam a bagagem deles para a sala de aula. Vocês ainda acham que eu queria ler? Nunca! Muito melhor brincar de amarelinha, pega-pega, guerra de mamona do que ficar toda a tarde lendo. Então, encostei esses livros e eles ficaram lá: amarelando, empoeirando à espera que alguém entrasse no mundo que eles contavam.
Após alguns anos mudei-me de casa, guardei esses livros em uma caixa, e lá eles ficaram por muito e muito tempo. Afinal, toda vez que olhava para eles lembrava-me da professora obrigando a leitura desses livros, que à época eu considerava chatíssimo. Enfim, eu mal conseguia ler sem o dicionário!
Esses livros continuaram me traumatizando por muitos anos até o dia em que alcancei o colegial e eles me obrigaram a ler de novo, imagina se eu gostei da obrigação? Não, né!? Porém agora já estava velha demais para ficar fugindo, então, deixei o trauma de infância e descobri um mundo novo. Lá encontrei personagens memoráveis que contavam a história de um povo sofrido após guerras, escravidão, ou seja, a vida cotidiana de muitos brasileiros há 110, 120, 130 anos.
E não é que esse tal de Machado era legal? Assisti filmes, assisti adaptações e descobri a literatura brasileira, seja em prosa, seja em contos.
Capitu, Brás Cubas, Quincas Borba.... Esses personagens fizeram parte da minha infância, mas sequer notei a presença deles, porém aos meus 17 anos eles me ensinaram a ler e acreditar que, nós brasileiros, temos muita cultura e que devemos valorizar o que nós produzimos para depois apreciar a literatura estrangeira.
E não é que há 100 anos esse tal Machado de Assis morreu? Vai falar que você não leu nenhum livro e que provavelmente foi obrigada por alguma professora chata que achava que aos seus 10 anos você iria querer ler a história de uma cara que morreu e resolveu contar a suas memórias póstumas? Pois é, eu assim como você não li na minha infância, mas dei uma chance para o Sr. Brás quando mais velha e aprendi muita coisa, principalmente a malícia de um povo.
Dia 29 de setembro faz um século que Machado de Assis morreu, porém mais que ontem a literatura dele está presente no nosso dia-dia, mas existe o momento certo para todos conhecermos os livros e contos desse ilustre autor e quem sabe esse não é o seu?
---
:: Bruna Tonel

Um comentário:

webjorsuperacao disse...

Bruna, lembra de Machado, além de respeitável é dar uma chance para si mesmo e para a condição literária vivida por ele e muitos há cem anos.
Na verdade, a genialidade não está preocupada com o tempo. Prova disso é a perenidade dos escritos de Machado e de muitos outros. O tempo destas pessoas é algo que transcende a matéria.
Mais: vc fez lembrar-me do livro "Quarto de Badulaques", de Rubens Alves. Como é fácil para estes gênios acionarem nossas lembranças, e quão grande são por permitirem que reabramos nossas portas mentais.
Seu texto começou com um modelo diário, transitou pela crônica e terminou em algo relatorial. Que trilha foi essa!?
/////
@_@
► ◄